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Reunião no Rio de Janeiro reunirá representantes de 11 países-membros e 10 parceiros; bloco busca maior influência em instituições internacionais


Bloco representa quase metade da população mundial e discute temas como energia, comércio, saúde e inteligência artificial


Da Redação da Rede Hoje

O Rio de Janeiro volta ao centro das atenções da política internacional neste domingo (6), ao sediar a Cúpula do Brics 2025, encontro que reúne chefes de Estado e representantes de 11 países-membros e 10 países-parceiros do bloco. O evento segue até segunda-feira (7), sob a presidência rotativa do Brasil, e será realizado no Museu de Arte Moderna (MAM), local que também recebeu a Cúpula do G20 no ano passado.

O Brics, acrônimo inicialmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e, posteriormente, África do Sul, se expandiu nos últimos anos. Atualmente, conta também com Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã e Indonésia. Juntos, os 11 membros representam 39% do PIB global, 48,5% da população mundial e 23% do comércio internacional.

O bloco nasceu como uma articulação econômica e diplomática de países em desenvolvimento, com o objetivo de propor uma alternativa ao modelo de governança global dominado pelas potências do Norte Global, como Estados Unidos, Alemanha e Japão, organizadas no G7.

Crescimento e reformulação

Desde sua criação, o Brics tem se fortalecido não apenas como fórum de cooperação econômica, mas também como espaço de articulação política do chamado Sul Global — conceito que engloba nações da América Latina, África, Ásia Meridional e Sudeste Asiático. Apesar de o nome sugerir uma localização geográfica ao sul, muitos desses países estão no Hemisfério Norte, como China, Egito e Rússia.

A reunião no Rio também marca um novo momento institucional do Brics. Em 2024, foi criada a figura dos países-parceiros, que participam dos debates, mas não têm poder de voto. Atualmente, dez nações possuem esse status, entre elas Cuba, Bolívia, Nigéria e Vietnã.

Foco da presidência brasileira

Durante a presidência do Brasil, mais de 200 reuniões técnicas foram realizadas, abordando temas como saúde global, comércio e investimentos, combate à mudança climática, governança da inteligência artificial e arquitetura multilateral para segurança. Também está em pauta o fortalecimento institucional do grupo.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, anfitrião da cúpula, pretende defender uma agenda baseada no multilateralismo e na inclusão de países em desenvolvimento nas decisões econômicas globais. A posição do Brasil é de que o Brics deve ser um espaço de cooperação, e não de confronto com o Ocidente.

Museu de Arte Moderna do Rio recebe a Cúpula do Brics 2025. (Foto: Divulgação/Brics)

Papel econômico e energético

O Brics tem impacto expressivo na economia mundial. Os países do bloco respondem por 43,6% da produção global de petróleo e 36% da produção de gás natural. Além disso, concentram 72% das reservas conhecidas de terras raras, minerais essenciais para a indústria tecnológica e energética, incluindo baterias, painéis solares e equipamentos eletrônicos.

O comércio entre os países do Brics também é expressivo. Em 2024, 36% das exportações brasileiras foram destinadas aos países do grupo, e 34% das importações do Brasil vieram dessas mesmas nações.

Banco do Brics e alternativas financeiras

Dilma Rousseff é a presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, com sede em Xangai, na China Ricardo Stuckert/PR

Criado em 2015, o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), também conhecido como Banco do Brics, é uma das iniciativas mais concretas do grupo. Sua função é financiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável em países em desenvolvimento. Com sede em Xangai, o NDB já aprovou 120 projetos, somando mais de US$ 39 bilhões em financiamentos.

A presidência do banco está atualmente com a ex-presidente do Brasil Dilma Rousseff, reeleita em 2025. O banco aceita novos integrantes, inclusive de fora do Brics, como Uruguai, Argélia e Bangladesh.

Outra estrutura criada pelo bloco é o Arranjo Contingente de Reservas (ACR), um fundo conjunto de até US$ 100 bilhões para apoio a países em caso de crise cambial. O fundo está ativo e pode ser acionado por qualquer membro. China, Brasil, Índia, Rússia e África do Sul são os principais contribuintes.

Próximos passos

Apesar do interesse de mais de 30 países em ingressar no bloco, não há previsão de nova expansão em 2025, segundo a presidência brasileira. Qualquer novo ingresso precisa ser aprovado por consenso entre os países-membros.

A próxima cúpula do Brics será realizada em 2026 na Índia. Esta é a quarta vez que o Brasil sedia a reunião de cúpula. As edições anteriores ocorreram em Brasília (2010 e 2019) e Fortaleza (2014).

Com a realização da cúpula no Rio, o Brasil reforça seu papel de liderança no Sul Global e busca consolidar o Brics como um instrumento eficaz de cooperação e influência global. Mesmo sem poder de deliberação vinculante, as decisões do grupo têm peso político crescente em meio às mudanças no cenário internacional.