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Fiscalizações entre abril e agosto retiraram 81 pessoas de condições análogas à escravidão em propriedades de cooperados da maior exportadora de café do país



Auditores encontraram crianças, adolescentes e idosos entre as vítimas; Cooxupé afirma ter bloqueado cinco produtores após tomar conhecimento oficial das irregularidades — Foto: Lela Beltrão/Repórter Brasil

Por Daniela Penha e Poliana Dallabrida | Repórter Brasil

Entre abril e agosto de 2025, 81 pessoas foram resgatadas de situações análogas à escravidão em 15 propriedades de café fiscalizadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Cinco desses produtores estão ligados à Cooxupé (Cooperativa Regional dos Cafeicultores de Guaxupé), a maior cooperativa de café do Brasil, responsável por 10% das exportações nacionais do grão.

As operações identificaram violações que incluíam más condições de alojamento e de trabalho, restrição de liberdade por dívidas ilegais e ausência de direitos básicos, como água potável e banheiros. Entre as vítimas estavam uma criança de 12 anos, um adolescente de 16 e um idoso de 72 anos.

Segundo os autos de infração, houve casos de trabalhadores migrantes endividados por despesas de viagem, pagamentos retidos em cheques restritos ao comércio local e colheitas realizadas sem registro formal ou equipamentos de proteção. Auditores também relataram situações em que trabalhadores faziam refeições frias em meio aos cafezais e não tinham onde realizar necessidades fisiológicas.

A Cooxupé informou que bloqueou a matrícula de cinco produtores após ser notificada oficialmente dos casos e afirmou que sua política prevê a interrupção do recebimento e segregação de lotes sempre que há violações trabalhistas. Em 2024, a cooperativa registrou faturamento recorde de R$ 10,7 bilhões, com 80% da produção destinada ao mercado externo.

Para organizações que monitoram o trabalho no campo, como a Adere-MG (Articulação dos Empregados Rurais de Minas Gerais), as ocorrências revelam um problema estrutural. “Entre 20% e 40% das demandas de trabalho escravo que chegam até nós envolvem produtores da Cooxupé”, afirma o coordenador Jorge Ferreira dos Santos.

Em abril, quatro cooperados já haviam sido incluídos na Lista Suja do Trabalho Escravo. Agora, os novos flagrantes reforçam a necessidade de medidas mais rígidas para coibir práticas ilegais em uma das principais cadeias produtivas do país.


Conteúdo originalmente publicado em Repórter Brasil