A megaoperação das forças de segurança do Rio de Janeiro contra o grupo Comando Vermelho registrou um elevado número de vítimas. As ações ocorreram nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte da capital fluminense. O evento superou operações anteriores no estado em número de óbitos.

Operação mobilizou grande efetivo policial nos complexos da Penha e do Alemão.
Da Redação da Rede Hoje
A megaoperação da polícia do Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho nos complexos do Alemão e da Penha resultou no maior número de mortes em uma incursão deste tipo na história recente. As informações oficiais indicam que ocorreram pelo menos sessenta e quatro óbitos nesta terça-feira. A ação policial concentrou-se em áreas densamente povoadas da Zona Norte.
Durante a madrugada desta quarta-feira, moradores do Complexo da Penha transportaram pelo menos cinquenta e quatro corpos. Os corpos foram levados para a Praça São Lucas, localizada na Estrada José Rucas, uma das vias principais da região. Não existe confirmação se esses corpos estão incluídos na contagem oficial. A inclusão deles poderia elevar o número total de mortes.
Até o momento desta operação, o maior número de vítimas fatais tinha ocorrido na Favela do Jacarezinho, em maio do ano de dois mil e vinte e um. Naquela ação policial, foram registradas vinte e oito mortes de civis. Outra operação com alto número de óbitos foi na Vila Cruzeiro, em maio de dois mil e vinte e dois, com vinte e quatro mortes. Todas essas operações ocorreram durante a gestão do governo de Cláudio Castro.
Uma nota conjunta, assinada por vinte e sete organizações da sociedade civil, expressou repúdio à operação policial. As entidades afirmaram que a segurança pública não pode ser realizada com violência letal. Elas argumentaram que os resultados da ação desta terça-feira evidenciam o fracasso. O texto aponta a violência estrutural da política de segurança implementada no estado fluminense.
Esforço e confrontos
A ação foi conduzida sob o nome de Operação Contenção, uma iniciativa do governo estadual. O objetivo declarado da operação é combater o avanço do grupo Comando Vermelho por territórios fluminenses. Para a execução da incursão, foram mobilizados dois mil e quinhentos policiais civis e militares. O contingente atuou no cumprimento de mandados de busca e apreensão.
A operação buscou também a captura de lideranças criminosas que atuam no Rio de Janeiro e em outros estados do país. No início da tarde da terça-feira, vias importantes da cidade foram bloqueadas sob ordens do grupo criminoso. Pistas da Linha Amarela, a Rua Dias da Cruz, no Méier, e a Grajaú-Jacarepaguá foram algumas das vias afetadas. A paralisação do trânsito aumentou o caos.
Em decorrência dos bloqueios nas vias e da desordem urbana, o Centro de Operações e Resiliência (COR) do Rio elevou o estágio operacional da cidade. O nível subiu para o estágio dois, em uma escala que possui o máximo de cinco. A elevação do nível indica a necessidade de atenção redobrada das autoridades municipais e estaduais de segurança.
O governador Cláudio Castro fez uma declaração sobre a natureza da ação policial em curso. Ele afirmou que a operação tinha pouca relação com a segurança pública tradicional. "É um estado de defesa. Não é mais só responsabilidade do estado, excede as nossas competências. Já era pra ter um trabalho de integração com as forças federais. O Rio está sozinho”, disse o governador, cobrando o apoio federal.
Debate de responsabilidade
Governador Cláudio Castro
Em resposta à declaração do governador, o Ministério da Justiça emitiu uma nota oficial. O órgão federal informou ter atendido prontamente a todos os pedidos feitos pelo governo do estado para o emprego da Força Nacional de Segurança. O texto também destacou o volume de ações da Polícia Federal realizadas no Rio de Janeiro.
O documento ministerial registrou que a Polícia Federal realizou cento e setenta e oito operações no Rio de Janeiro somente neste ano. Vinte e quatro dessas operações foram direcionadas especificamente ao combate ao tráfico de drogas e armas. A nota ressaltou o trabalho da Polícia Rodoviária Federal no estado. A PRF tem promovido ações contra roubos de cargas e de veículos nas rodovias federais.
O Ministério da Justiça também informou que o estado do Rio de Janeiro tem recebido repasses de recursos federais. O dinheiro é destinado a investimentos no sistema penitenciário e na segurança pública. Além disso, o estado foi beneficiado com doações de equipamentos para as forças de segurança. A nota refutou a alegação de falta de apoio da União.
O governador Cláudio Castro afirmou que a Operação Contenção foi a maior já realizada na história das forças de segurança do estado. Ele declarou que a ação teria levado mais de um ano de investigação e mais de sessenta dias de planejamento prévio. Entretanto, de acordo com o próprio governo, apenas um líder do Comando Vermelho foi preso na ação. O detido seria responsável por conflitos na região do Chapadão.
Tática do crime
Durante a operação, os criminosos utilizaram drones para lançar artefatos explosivos contra as equipes policiais em campo. Os dispositivos foram lançados contra os agentes e a população no Complexo da Penha. O objetivo da tática criminosa era atrasar o avanço das forças policiais. A ação demonstra o uso de tecnologia pelos grupos organizados no Rio.
Além do uso de drones com explosivos, diversas barricadas foram posicionadas nas vias de acesso pelos criminosos. O objetivo dessas obstruções era impedir a entrada e a progressão das forças policiais nos complexos. A tática de interrupção de vias é comum em áreas controladas por facções.
Segundo o Gaeco, Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Rio de Janeiro, o complexo de favelas possui importância estratégica. A proximidade com vias expressas torna a região um ponto essencial para o escoamento de drogas e armamentos. O complexo se estabeleceu como uma das principais bases para o projeto de expansão do Comando Vermelho.
A Promotoria denunciou um total de sessenta e sete pessoas pelo crime de associação para o tráfico. Três homens também foram denunciados pelo crime de tortura. O Ministério Público busca responsabilizar os indivíduos envolvidos nas atividades criminosas na região. O número de denúncias indica a dimensão da investigação.
Impactos sociais
Moradores dos complexos do Alemão e da Penha relataram intenso tiroteio e dificuldade para se deslocar desde o início da manhã. Os relatos indicam que a rotina diária foi afetada drasticamente pela presença policial e pelos confrontos. Na Vila Cruzeiro, na Penha, policiais ocuparam com blindados todos os acessos à favela.
Moradores eram vistos caminhando nas ruas, mesmo sob o risco de escutar tiros nas proximidades. O tráfego de motocicletas foi proibido pelos policiais, que mandavam os mototaxistas retornarem, muitas vezes aos gritos. Baús e mochilas de transeuntes eram revistados nos pontos de acesso. Mototaxistas expressavam insatisfação ao se afastarem das barreiras policiais montadas.
A operação causou impacto também no atendimento de saúde da população local. Cinco unidades de saúde que atendem a região da Penha e do Complexo do Alemão suspenderam o início do funcionamento. As unidades avaliavam a possibilidade de abrir nas horas seguintes, dependendo da situação de segurança. A interrupção afeta a rotina médica.
A nota conjunta das vinte e sete organizações de direitos humanos criticou o resultado da operação. Elas argumentaram que o evento expõe o fracasso e a violência estrutural da política de segurança no estado. As entidades defendem que a política estatal não pode ser conduzida a partir do derramamento de sangue. A segurança pública deve garantir direitos, segundo as organizações.
Com informações do ICL Notícias