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Setor se diz surpreendido com ausência em reunião e alerta para impactos bilionários da medida no Brasil


Silas Brasileiro, presidente do CNC, expressa preocupação com a exclusão do setor cafeeiro das ações oficiais frente ao tarifaço dos EUA. (Foto: arquivo Rede Hoje)

Da Redação da Rede Hoje

O Conselho Nacional do Café (CNC) manifestou oficialmente sua insatisfação com a ausência da cafeicultura nas agendas e comunicações do governo federal relacionadas à resposta brasileira à nova tarifa imposta pelos Estados Unidos. Em carta assinada pelo presidente Silas Brasileiro, a entidade cobra inclusão do setor nos debates e adverte para os possíveis efeitos econômicos e sociais da exclusão.

O posicionamento ocorre no mesmo dia em que o governo federal instalou um comitê interministerial de emergência para tratar das contramedidas à taxação norte-americana de 50% sobre exportações brasileiras. Apesar da relevância do café — que representa 8,82% do Valor Bruto da Produção (VBP) agrícola do país —, o CNC não foi incluído nas discussões iniciais.

O Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo. Em 2025, a cadeia da cafeicultura deve movimentar R$ 124,2 bilhões e gerar cerca de 8,4 milhões de empregos diretos e indiretos. Mesmo com esse peso, o CNC afirma que a ausência de menções à atividade durante a coletiva do vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, e na reunião do dia 15 de julho, às 14h, reforça um sentimento de distanciamento entre o setor e o Governo Federal.

A carta destaca ainda o papel da cafeicultura na preservação ambiental, na sustentabilidade social e na promoção do desenvolvimento regional, especialmente em áreas mais vulneráveis. Segundo o CNC, cerca de 254 mil dos 330 mil cafeicultores brasileiros são pequenos produtores, distribuídos em quase dois mil municípios, em seis biomas diferentes.

Por fim, o CNC reafirma seu compromisso com o diálogo institucional e se coloca à disposição para contribuir tecnicamente com propostas e soluções.


Leia a carta na íntegra:

Manifestação do Conselho Nacional do Café (CNC) sobre ausência do setor cafeeiro em agendas e comunicações oficiais sobre a taxação imposta pelo governo americano

O Conselho Nacional do Café (CNC), entidade representativa da cafeicultura brasileira, vem respeitosamente manifestar sua preocupação diante da ausência do setor cafeeiro na pauta da reunião convocada para esta data, às 14 horas, bem como na recente coletiva concedida pelo Vice-Presidente e Ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin.

O Brasil mantém sua posição como o maior produtor e exportador de café do mundo, com 17 estados produtores, presente em 1.983 municípios, 6 biomas diferentes e é um dos grandes pilares sociais e econômicos do país. Com um total de 330 mil cafeicultores, dos quais 254 mil são pequenos produtores, a cadeia produtiva do café gera aproximadamente 8,4 milhões de empregos diretos e indiretos, abrangendo desde a produção nas lavouras até a industrialização e exportação do produto. Além de seu impacto econômico, a cafeicultura desempenha um papel fundamental no desenvolvimento regional, promovendo inclusão social, geração de renda e fortalecimento dos pequenos e médios produtores. Onde a cafeicultura está instalada, o índice de desenvolvimento humano (IDH) é patentemente maior.

Não é por demais lembrar que além do aspecto ambiental, a produção de café no Brasil também tem um forte compromisso com a sustentabilidade social, já que os direitos trabalhistas no país garantem proteção e segurança aos trabalhadores e trabalhadoras. Eles abrangem questões como salário mínimo, jornada de trabalho, férias remuneradas, décimo terceiro salário, descanso semanal, licenças maternidade e paternidade, seguro-desemprego, entre outros. Cabe ressaltar que a proteção à saúde do trabalhador também é promovida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo Sistema Único de Saúde (SUS), sendo o país o único no mundo a disponibilizar esse serviço de forma pública e gratuita.

Portanto, além do produtor, toda uma cadeia será afetada por essa taxação: as cooperativas, as indústrias, os fornecedores de insumos, os prestadores de serviço, os exportadores. Estamos falando de um setor que movimenta bilhões e que é responsável por parcela significativa da balança comercial do país.

Em 2025, com base nas projeções do Ministério da Agricultura, a cafeicultura ocupará a quarta colocação no ranking geral, alcançando R$ 124.2 bilhões, o que representa 8,82% do VBP total do país.

Além de seu papel econômico, o café tem forte impacto ambiental positivo, sendo cultivado em áreas com cobertura vegetal nativa preservada e com crescente adoção de práticas sustentáveis e regenerativas. É também uma cultura essencial para o equilíbrio social em diversas regiões, especialmente nas mais vulneráveis.

Por essas razões, a ausência de menções à cafeicultura em espaços de diálogo e formulação de políticas públicas nos preocupa, por transmitir ao setor um sentimento de distanciamento em relação às decisões estratégicas do Governo Federal.

Apesar disso, o CNC reitera seu compromisso com o diálogo e a construção conjunta de soluções para o fortalecimento da agricultura nacional. Permanecemos à disposição do Ministério da Agricultura e Pecuária para contribuir de forma técnica e propositiva, com responsabilidade e espírito de cooperação.

Silas Brasileiro
Presidente do Conselho Nacional do Café – CNC