A caixa-preta do voo da Voepass que caiu em Vinhedo revela que o copiloto sugeriu aumentar a potência da aeronave; houve pânico entre os passageiros; possíveis falhas técnicas e condições adversas, como a formação de gelo nas asas.

Créditos: Diego Baravelli/Wikimedia Commons.


Avião da Voepass/Passaredo. 

Da redação da
Rede Hoje

O conteúdo da caixa-preta do avião ATR-72 da Voepass, que caiu em Vinhedo, São Paulo, na última sexta-feira (9), começou a ser revelado na noite desta quarta-feira (14). A gravação trouxe à tona momentos cruciais antes da tragédia, incluindo uma pergunta do copiloto sobre “dar potência” à aeronave e gritos dos passageiros quando o avião começou a perder altitude.

Essas revelações foram obtidas e divulgadas pelo Jornal Nacional, da TV Globo, com base nas gravações feitas pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes (Cenipa), da Força Aérea Brasileira. As gravações captaram cerca de duas horas de conversas dentro da cabine

Segundo informações do Cenipa, a aeronave perdeu altitude repentinamente, mas os registros da caixa-preta, até agora, não forneceram respostas definitivas sobre o que causou o acidente. 

Um relatório preliminar sobre a investigação deverá ser divulgado em aproximadamente 30 dias.

O voo saiu de Cascavel, no Paraná, com destino ao Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo. A queda ocorreu a cerca de 100 km do destino final, atingindo uma área residencial em Vinhedo. O impacto resultou na morte de todos os 58 passageiros e 4 tripulantes a bordo

Tentativas na cabine

Entre os momentos registrados, destaca-se a percepção do copiloto Humberto de Campos Alencar e Silva, que notou a perda de altitude e questionou o piloto sobre a situação, revelando um aumento de potência na tentativa de estabilizar a aeronave. Infelizmente, menos de um minuto após essa troca, o avião já estava em queda.


A caixa-preta da aeronave da Voepass.

Créditos: Divulgação / Cenipa

Como grava

Os pesquisadores levantaram a hipótese de que o gelo poderia ter se formado nas asas do avião, o que teria comprometido sua estabilidade. No entanto, essa teoria ainda não foi confirmada, e a gravação da caixa-preta não fornece provas conclusivas para essa

As investigações não se limitam ao Cenipa. Representantes da ATR, fabricante francesa da aeronave, e da Pratt & Whitney, fabricante canadense do motor, também participam das análises. A colaboração internacional é comum em casos de acidentes aéreos, dada a complexidade das aeronaves modernas

Além das investigações técnicas, o histórico da Voepass também veio à tona. A empresa, responsável pelo voo, enfrenta centenas de reclamações, processos e denúncias trabalhistas, muitos dos quais se relacionam com irregularidades

O portal da dívida ativa da União revela que o Voepass possui um subsídio de mais de R$ 26,1 milhões, incluindo dívidas trabalhistas e impostos devidos ao estado de São Paulo. Além disso, o Ministério Público do Trabalho (MPT) de Ribeirão Preto contabilizou 160 denúncias trabalhistas contra a empresa desde 1999

Em termos de imagem, a Voepass enfrentou sérias críticas. No site Reclame Aqui, a empresa acumulou mais de 4 mil reclamações, das quais responderam menos de 10% nos últimos seis meses, sendo coerente como "Não Recomendada

A Voepass, anteriormente conhecida como Passaredo Transportes Aéreos, foi criada em 1995 e passou por um processo de recuperação judicial em 2012 devido a uma dívida de R$ 150 milhões. Desde então, a companhia vem lutando para se manter no mercado, com diversas reestruturações e trocas

O acidente em Vinhedo se junta a uma lista de incidentes envolvendo o modelo ATR 72, que, apesar de sua confiabilidade, já foi protagonista de outras tragédias, como as ocorridas em Taiwan e no Nepal, nas quais ocorreram tragédias extraordinárias

A comunidade de aviação e os familiares das vítimas aguardam ansiosamente por respostas que possam esclarecer as causas desse trágico acidente e, assim, evitar que situações semelhantes voltem a acontecer no futuro


Fonte: Revista Fórum