Minas Gerais enfrenta uma série de desafios climáticos graves, caracterizados por eventos extremos como secas severas, temperaturas recordes e enchentes

Num encontro da Assembleia de Minas, em Araçuaí, foram apresentadas experiências de sucesso no enfrentamento dos danos causados pelas mudanças climáticas. Foto: Willian Dias

Da redação da Rede Hoje

Minas Gerais enfrenta uma série de desafios climáticos graves, caracterizados por eventos extremos como secas severas, temperaturas recordes e enchentes. O sinal de alerta foi intensificado pelos acontecimentos recentes no Rio Grande do Sul, em maio de 2024. A crise climática na região tem se agravado ao longo das décadas, impactando diversas microrregiões de forma distinta.

Nesta segunda, dia 20 de maio de 2024, Araçuaí sediou o primeiro encontro regional do Seminário Técnico "Crise Climática em Minas Gerais: Desafios na Convivência com a Seca e a Chuva Extrema", organizado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). O evento reuniu deputados e especialistas para discutir a realidade climática da região e propor soluções para enfrentar os eventos extremos.

Negligencia e Ação Humana: entre as causas no RS


Porto Alegre, uma área naturalmente suscetível a alagamentos devido à sua geografia de várzea e confluência de rios, enfrenta desafios ainda maiores devido à urbanização descontrolada 

A recente tragédia que atingiu 446 municípios gaúchos despertou um debate crucial sobre os impactos das ações humanas na intensificação das catástrofes naturais. O professor Roberto Reis, do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução da Biodiversidade da PUCRS, enfatizou que parte da responsabilidade pela enchente recai sobre a negligência na construção e manutenção de infraestruturas hídricas. O agravamento da situação, segundo ele, é resultado direto da ocupação inadequada de áreas de risco e da falta de cuidado com diques de contenção e barreiras anti-alagamento, especialmente construídos nos anos 1970 e nunca devidamente mantidos.

Porto Alegre, uma área naturalmente suscetível a alagamentos devido à sua geografia de várzea e confluência de rios, enfrenta desafios ainda maiores devido à urbanização descontrolada. Reis salienta que é crucial repensar a expansão urbana e investir na manutenção adequada de infraestruturas para mitigar os efeitos das enchentes recorrentes. Ele alerta que, embora as chuvas intensas sejam um fenômeno natural, a gravidade das consequências é agravada pela falta de preparação e prevenção.

O professor Rodrigo Paiva, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS, complementa a análise, destacando que o volume excepcional de chuvas desde o final de abril contribuiu significativamente para a recente cheia no Lago Guaíba. Ele ressalta que as enchentes rápidas nos vales montanhosos foram seguidas pelo lento escoamento nas planícies, prolongando a duração do evento. Paiva destaca a importância das várzeas na região, atuando como reservatórios naturais que atenuam as cheias e ressalta a necessidade de políticas de gestão de riscos mais eficazes e investimentos em infraestrutura resiliente para enfrentar os desafios climáticos cada vez mais intensos.
 

Impactos Climáticos em Minas Gerais

Segundo o professor Claudenir Fávero, a agricultura predatória contribui com 27% do aumento da temperatura.
Foto: Willian Dias|ALEMG

Os participantes analisaram o histórico e os impactos das mudanças climáticas em Minas Gerais. O professor Alecir Moreira, da PUC Minas, destacou a intensificação dos eventos climáticos extremos, como secas prolongadas e enchentes severas.

Análises do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) indicaram que Araçuaí tem registrado temperaturas superiores à média histórica e invernos mais rigorosos, com variações significativas nas temperaturas máximas e mínimas e uma redução no volume de chuvas.

Dados da Sudene e do IBGE mostram que o semiárido está se expandindo para o Vale do Mucuri, aumentando o número de municípios afetados pelo clima de 91 em 2017 para 126 em 2021. As previsões para a mesorregião apontam para uma redução de 30% a 50% no volume de chuvas e um aumento de temperatura entre 1ºC e 2ºC até 2040.

Debate e Críticas às Práticas Ambientais

O seminário incluiu a exibição de um vídeo com imagens de desastres climáticos em Minas Gerais. O presidente da ALMG, Tadeu Martins Leite, ressaltou a gravidade da situação, mencionando a pior estiagem dos últimos 33 anos e o fato de que as 20 cidades mais quentes do país estão em Minas Gerais.

Deputados presentes criticaram práticas ambientais destrutivas e a falta de manutenção em infraestruturas hídricas. A deputada Beatriz Cerqueira (PT) condenou a flexibilização das exigências ambientais no Rio Grande do Sul, enquanto o deputado Carlos Henrique (Republicanos) destacou a necessidade de melhor manutenção das infraestruturas hídricas e o deputado Doutor Jean Freire (PT) criticou o uso inadequado da água.

Soluções Sustentáveis

Boas práticas e tecnologias sustentáveis foram apresentadas como soluções potenciais. Programas como os Kits Fotovoltaicos para comunidades com dificuldade de acesso à energia elétrica e o Projeto Forrageiras para o Semiárido, que apoia o cultivo de plantas resistentes à seca, foram discutidos.

Além disso, iniciativas voltadas para a convivência com o clima em comunidades tradicionais e assentamentos de reforma agrária foram apresentadas por Alecson Jardim, da Cáritas Diocesana.

Impactos Sociais e Agrícolas

Especialistas discutiram os impactos sociais e agrícolas da crise climática. A professora Larissa Bianca de Souza Quaresma, da PUC Minas, destacou os danos sociais e a migração forçada de pessoas devido às variações climáticas. Vico Mendes, do Instituto Federal do Norte de Minas, relatou a redução da vazão do Rio Araçuaí devido à supressão da vegetação nativa e monocultura de eucalipto, enquanto Claudenir Fávero, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, apontou que a agricultura predatória é responsável por 27% do aumento da temperatura.

Próximos Passos

Este seminário faz parte de uma série de encontros regionais organizados pela ALMG para produzir um diagnóstico abrangente da situação climática em Minas Gerais e coletar sugestões para orientar futuras ações.

Um relatório com as propostas analisadas será apresentado ao final da etapa de interiorização, prevista para agosto. A expectativa é que essas iniciativas possam direcionar políticas públicas mais eficazes e sustentáveis para mitigar os efeitos da crise climática na região.